Notícia

O sentido do tempo em nossas vidas
23/08/2017

O SENTIDO DO TEMPO EM NOSSAS VIDAS
 
Nós, seres humanos em evolução, sempre buscamos organizar os afazeres cotidianos para alcançar um melhor desempenho. Ocorre que medir o tempo e o que se fazia, ou se faz, evoluiu na forma, mas não na habilidade do aproveitamento dele com eficácia e eficiência, e por isto mesmo, muitos  de nós vivemos afobados com um volume maior de coisas a fazer do que as horas disponíveis.  
 
Se buscarmos na história veremos que inicialmente pensava-se que o deus Chronos seria capaz de controlar tudo de todos. Depois, na Idade Média, prevalecia a ideia de que o tempo presente deveria ser sacrificado, pois a felicidade somente seria possível em algum momento do futuro. E, avançando na história, constata-se que Deus deixou de ser o centro das ideias, ocasião em que tudo passou a girar ao redor do homem e da mulher, e todos deveriam, para serem felizes, gozar, no tempo carnal  em um sensualismo insaciável.
 
Esta postura hedonista vige nos dias atuais onde muitos, ainda, acreditam que a vida é curta e procuram curtir tudo que podem, procurando no sensualismo o sentido da felicidade.
 
O Espiritismo veio oferecer à Humanidade o sentido do tempo do Espírito imortal, que na encarnação pode ir além do transitório, do fugaz, do frágil, para aproveitar bem o tempo e ampliar o conhecimento de si mesmo perante as Leis divinas, porquanto o período em que vivemos na Terra como Espíritos encarnados vai muito além de céu e inferno, dos castigos e punições, porque, em verdade, vivemos a dimensão da evolução rumando ao infinito, com direitos e deveres perante a nossa consciência.
 
Diante disto, reflitamos no que significa estarmos reencarnados nos dias atuais e o bom uso do tempo. O fundamental, em relação ao tempo será o bom aproveitamento para o aprimoramento e evolução do Espírito imortal, que é capaz, pelo esforço constante, de realizar grandes conquistas em muitas dimensões em si mesmo. Daí o convite para o equilíbrio entre os deveres materiais e os deveres espirituais.
 
Os deveres espirituais são as prioridades e eles na reencarnação se conectam dentro dos deveres materiais, ou seja, todo dever material traz em si o dever consciencial de evoluir espiritualmente. E eles acontecem o tempo todo, estando nós encarnados ou não. Já os deveres materiais acontecem, na estrada da vida enquanto encarnados, conforme as circunstâncias que experienciamos, onde reconhecemos que toda tarefa digna, se reveste de utilidade, porém é imprescindível buscar vivenciar os exemplos extraídos no evangelho de Jesus, o nosso modelo e guia.
 
Certamente que sempre estamos conectados com a nossa vontade, frágil ou vigorosa, com os nossos pensamentos bem ou mal direcionados e também com os nossos sentimentos elevados ou viciosos, produzindo ou não atos nobres.
 
E como podemos canalizar a nossa vontade, os nossos sentimentos e os nossos pensamentos, fazendo com que os nossos atos comecem a ser expressos como os atos imortais que vão gerar os hábitos imortais? Compreendendo que hábitos imortais são aqueles conectados com o nosso propósito existencial, propósito da existência do Espírito na jornada rumo a pura e eterna felicidade.
 
Será refletir o quão profundo e benévolo é para cada um de nós agirmos com hábitos imortais diante das experiências, bem aproveitando o tempo, como empréstimo divino para a nossa evolução.
 
Valoroso acolher com amor o desenvolvimento dos valores morais para agir com operosidade em conexão com a Lei do trabalho, aproveitando o fato de sermos muito bem preparados antes de entrar na vida física, para cumprir a vontade de Deus que designa para nós evoluirmos com consciência de nós mesmos e com consciência da finalidade de nossas existências.
 
Irmos além do apenas não fazer o mal, laborando o bem na construção íntima em sintonia com o bem ao próximo como a si mesmo, como resultado do autoamor. Como esclarece Allan Kardec em o Livro dos Espíritos, quando trata da Lei divina ou natural, no que tange ao bem e o ao mal, na questão 642:
 
642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?
“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.
 
Vejamos a importância de observar este conceito sob dois pilares: em primeiro lugar, o tempo para evoluir é infinito, sendo assim não há tempo limitado para o conhecimento, logo, existe uma dimensão atemporal no íntimo da criatura, porém temos o dever, não com o desespero de evoluir, mas com o tempo que no corpo é limitado; em segundo lugar, como Deus não nos pune, mas nos ama, e não sendo Ele um cobrador intransigente, somos convidados a lembrar que o que o Pai mais quer de nós é a nossa evolução para nos aproximarmos Dele, razão pela qual nos provê todos os dias de experiências necessárias para isto.
 
Meditemos na lição 115 de O Livro dos Espíritos, quando se estuda sobre a progressão dos Espíritos:
 
115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?
 
“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.”
 
a) – Segundo o que acabais de dizer, os Espíritos, em sua origem, seriam como as crianças, ignorantes e inexperientes, só adquirindo pouco a pouco os conhecimentos de que carecem com o percorrerem as diferentes fases da vida?
 
“Sim, a comparação é boa. A criança rebelde se conserva ignorante e imperfeita. Seu aproveitamento depende da sua maior ou menor docilidade. Mas, a vida do homem tem termo, ao passo que a dos Espíritos se prolonga ao infinito.
 
Esta missão será cumprida, em mais ou menos tempo, dependendo da boa utilização deste, pela submissão à vontade de Deus. Logo, o sentido do tempo em nossas vidas é o bom aproveitamento para nos aproximarmos de Deus, cumprindo a Sua vontade.
 
Quanto mais nos responsabilizamos com esta conquista e desenvolvemos as virtudes, que estão latentes em nós, mais evoluímos e nos aproximamos do Pai, amoroso e bom. Por outro lado, quanto mais rebeldia, mais “matamos” o tempo, servindo ao senhor sensualismo, na procura do menor esforço, querendo satisfazer aos desejos egóicos, mais nos afastamos do Criador.
 
Importa lembrar que se o tempo fosse nosso poderíamos controlá-lo, teríamos como adiantar, atrasar ou tornar mais lento o passar das horas. Mas, não é isto que ocorre. O controle dos segundos que correm céleres a nossa frente pertence ao Criador, de forma que o tempo é um empréstimo divino para que utilizemos deste recurso-dádiva em busca da nossa transformação moral. É um empréstimo por não nos pertencer, não ser nossa propriedade; e dádiva divina por ser uma oportunidade magnífica de trabalharmos a nossa autotransformação moral, buscando a autoiluminação.
 
Busquemos crer sim, mas não só crer, irmos além gravando o Evangelho na própria existência, modelando Jesus.
 
Saulo Gouveia
Vice-presidente administrativo da Feemt – Federação Espírita do Estado de Mato Grosso
(Artigo publicado na edição nº 2.259, de junho/2017, da revista Reformador, publicada pela Federação Espírita Brasileira)
 
REFERÊNCIAS:
1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. q. 115 e q. 115a, p. 97 e q. 642, p. 290.
2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 17, it. 04, p. 228.
3 STEFANINI II, Afro, Vozes Alerta. Mensagem “O tempo é de Deus”. Pelo Espírito Honório. 1. Ed. Cuiabá: Editora Espiritizar. M. 2, p. 21.
4 CERQUEIRA FILHO, Alírio, A presença amorosa de Deus em nossas vidas. 1. Ed. Cuiabá: Editora Espiritizar. 2º encontro, ressignificando o temor a Deus. Parte II, p. 36.